RESENHA
A
IGREJA DA MISERICÓRDIA
FRANCISCO, Papa. A Igreja da Misericórdia: Minha visão
para a Igreja. 1ª ed. São Paulo: Paralela, 2014.
Ricardo de Moura
Borges.
Graduado
em Licenciatura Plena em História pela Universidade Federal do Piauí. Graduando
em Licenciatura em Filosofia pelo Instituto Católico de Estudos Superiores do
Piauí, ICESPI. Teresina – PI. Pós Graduado em História afro brasileira e
Indígena pela UNINTER. Graduando em Sociologia pela UNINTER.
Sobre
o autor: Jorge Mário Bergoglio, nascido em Buenos Aires em 17 de dezembro de
1936 sendo o primeiro dos cinco irmãos: Oscar, Marta, Alberto e Maria Elena.
Seu pai Mario foi contador das ferroviárias e sua mãe, Regina Sivori, dona de
casa. Em 1957 após se formar em especialista em Química, escolhe o caminho do
sacerdócio e entra no seminário diocesano Villa Devoto. Em 11 de março de 1958
entra na Companhia de Jesus, como noviço. Foi ordenado sacerdote em 1969, nomeado
bispo auxiliar em 1992, arcebispo em 1998, cardeal em 2001 e no dia 13 de março
de 2013 torna-se o primeiro papa latino americano adotando o nome de Francisco.
A
presente obra possui 121 páginas estando dividida em: Prefácio, dez capítulos; uma
biografia rápida intitulada: Sobre o Papa; e Notas de referências sobre
citações bíblicas expostas no texto.
O
prefácio de Giuliano Virgini, apresentando que o pontificado do Papa Francisco
se mostra delineado com a exortação apostólica Evangeli Gaudium de 24 de
novembro de 2013, mostrando que a Igreja em tempos contemporâneos, assume uma
cara missionária “através de um anúncio e um testemunho cristão cada vez mais
puro e fiel ao evangelho”.
No
Capitulo 1 intitulado A Novidade de Cristo temos cinco sub tópicos a saber: O
abraço da misericórdia de Deus; A luz da fé; A mensagem Cristã; A revolução da
Liberdade; Estar com Cristo. Aqui temos relatos dos evangelhos e constatação da
Misericórdia de Deus através da fé, onde o próprio Tomé não acreditando na
Ressurreição de Cristo, experimenta através da empiria essa constatação. A misericórdia
de Deus é “um amor que não falha, que segura a nossa mão, nos sustenta, levanta
e guia” p. 11. A luz da fé provém do Deus vivo e essa nasce do encontro com
Deus. O papa faz um convite a não fechar em nós mesmos, não perder a confiança,
não nos darmos jamais por vencidos, pois “não há situação que Deus não possa
mudar, se nos abrirmos a Ele” p. 16. O
Senhor que é bom e misericordioso e sentimos o seu Amor, pois Ele nos concede a
graça. O papa utiliza o método dos antigos Jesuítas para explicar sobre Jesus,
colocando a regra dos três pontos. Sendo que recomeçar com Cristo significa:
cultivara a familiaridade; Para um discípulo estar com o Mestre é necessário:
Ouvi-Lo, aprender Dele; Imitá –Lo ao sair de Si mesmo para ir ao encontro do
outro; Não ter medo de ir com Ele para as Periferias; No fim do capitulo o Papa
faz uma exortação aos cristãos para não se fecharem em seus grupos, em
paróquias mas que saiam de si para o encontro do Outro, mostrando uma Igreja em
missão. Assim diz: “Quantas vezes vimos acidentes nas estradas! Mas eu digo:
prefiro mil vezes uma Igreja acidentada a uma Igreja doente!
No
segundo capitulo intitulado Uma igreja Pobre para os Pobres temos os seguintes
sub tópicos: Ouvir o clamor dos Pobres; Casa de Comunhão; Casa que acolhe a
todos; Casa da harmonia; e Enviada para levar o Evangelho a todo o Mundo; Os
cristãos são chamados a assumirem os mesmos sentimentos que estão em Cristo
Jesus, por isso essa opção pelos pobres é mais teológica do que cultural,
filosófica ou social. Como ensina Bento XVI “esta opção está implícita na fé
cristológica naquele Deus que se fez pobre por nós, para enriquecer-nos com sua
pobreza”. A igreja é uma casa de comunhão onde “professamos que a Igreja é única
e que essa Igreja é em si mesmo unidade” p. 27.
O papa afirma que durante certos períodos na História disseram que a
Igreja era só para os puros, sendo que os demais deveriam ser afastados,
contudo, o papa ressalta que “somos uma igreja de pecadores; e nós pecadores
somos chamados a nos deixar transformar, renovar e santificar por Deus” p. 31. A
Igreja é a casa onde é anunciada a fé em sua totalidade, está espalhada em
todos os lugares e anuncia o Evangelho; e é uma casa de harmonia onde “unidade
e diversidade sabem conjugar para se tornarem riqueza” p. 34. Sendo assim a
Igreja é apostólica porque: Esta fundada na pregação e na oração dos apóstolos;
Guarda e transmite com ajuda do Espirito Santo que habilita a doutrina; e é
envida a anunciar o evangelho ao mundo inteiro.
No
terceiro capitulo Intitulado Em Sintonia com O Espírito, encontra-se os
seguintes sub tópicos: Ser Guiado Pelo Espírito Santo; e Novidade, Harmonia e
Missão. O papa orienta que vivemos em uma época de ceticismo em relação a
Verdade, contudo, a ação do Espírito Santo realiza ao guiar a Igreja e a cada
um de nós para a Verdade, que está em Cristo Jesus. “Temos necessidade de nos
deixamos inundar pela luz do Espírito Santo, para que Ele nos introduza na
Verdade de Deus” p. 41. A novidade causa sempre um pouco de medo, contudo é
necessário se lançar ao novo; O Espirito Santo, à primeira vista, parece trazer
desordem quando traz a diversidade de carismas, contudo, sob ação do mesmo
Espírito tudo é uma grande riqueza. A alma é uma espécie de barco a vela e o
Espírito Santo sopra na Vela, conduzindo o ser humano;
No
quarto capitulo intitulado O Anúncio e Testemunho temos os seguintes sub
tópicos: Não ter medo; Levar a Palavra de Deus; Chamados para anunciar o
Evangelho; Comunicar esperança e alegria; e Entregar Tudo. “Só a presença do
Senhor ressuscitado entre eles e a presença do Espirito Santo” p. 48 explicam o
anuncio da Boa nova em toda a Jerusalém pelos apóstolos, sendo estes
hostilizados e até com pouca instrução em relação aos escribas e doutores da
lei. São apresentados três aspectos da nossa vocação: chamados por Deus;
chamados para anunciar o evangelho; e chamados a promover a cultura do encontro.
O papa remete a três posturas que o cristão deve assumir diante sua vocação:
Conservar a esperança; Deixar-se surpreender por Deus; e Viver na alegria.
No
quinto capitulo intitulado Cristãos o Tempo Todo, encontramos os seguintes sub
tópicos: Sairmos de nós mesmos; Caminhar; Tomar a Cruz; e Evangelizar. Aqui o
papa nos remete ao significado verdadeiro da Semana Santa. “Viver a Semana
Santa seguindo Jesus quer dizer aprender a sairmos de nós mesmos – como eu
disse antes – para ir ao encontro dos outros, para ir as periferias da existência,
sermos os primeiros a ir ao encontro de nossos irmãos...” p. 60 “Significa
entrar na lógica de Deus, na lógica da Cruz. Significa entrar na lógica do
Evangelho” p. 61.
No
sexto capitulo intitulado Pastores com o cheiro de Ovelhas, tem-se os seguintes
sub tópicos: O que significa ser Pastor; Sacerdotes para Servir; e Levar a
unção ao Povo. O pastor deve apascentar o rebanho e o significado de apascentar
é “acolher com magnanimidade; caminhar com o rebanho, permanecer no rebanho” p.
69. Conhecer cada pessoa do rebanho mostrando o interesse em Cristo de
acolhimento, de valor de humanidade, caminhar com o rebanho fazendo-se presente
e visível ao povo de Deus sempre sem abandona-los diante das circunstancias
apresentadas. Carinho pelos sacerdotes, presença na diocese sendo que o estilo
de serviço ao rebanho seja o “da humildade, diria até da austeridade e da
essencialidade” p. 71.
No
sétimo capitulo intitulado A Escolha dos Últimos tem-se os seguintes sub títulos:
A Periferia da Existência: Acolher e Servir; Os refugiados; A amplitude da
Solidariedade. “A Igreja deve sair de si mesma... Para as periferias
existenciais, sejam eles quais forem, mais sair” p. 79. O papa enfatiza a preferência
da igreja em sair em missão pelos pobres. A acolhida está relacionada a casa,
ao dom. O papa faz menção a Casa (Igreja) que protege os indefesos que são
perseguidos. “A Igreja é mãe e sua atenção materna se manifesta com ternura e
proximidade especiais em relação aos que são obrigados a fugir do próprio país
e vivem entre erradicação e integração” p. 82. A solidariedade é um palavrão
que está sendo proibida de ser mencionada em tempos hodiernos, e que
solidariedade está imbrincada necessariamente de três outras palavras: servir, acompanhar
e defender.
No
Oitavo Capitulo intitulado Demolir os Ídolos tem-se os seguintes sub tópicos: A
Lógica do Poder e da Violência: Culto ao deus do Dinheiro; A lepra do carreirismo;
Despojar o espirito do mundo; Todos querem o mundo da harmonia e paz, querendo
o bem de todos guiados pelo amor, contudo “ quando o homem pensa só em si
mesmo, nos seus próprios interesses e se coloca no centro, quando se deixa
fascinar pelos ídolos do domínio e do poder, quando se coloca no lugar de Deus,
então deteriora todas as relações, arruína tudo; e abre a porta a violência, a
indiferença, ao conflito” p. 87. “O que manda hoje não é o homem, mas o
dinheiro, é o dinheiro que manda” p. 88. O papa dá exemplos de que o que se é
valorizado na mídia não é o que acontece com o ser humano, mas existe uma
inversão de valores onde os objetos, como as bolsas de valores tem mais
destaque que um acidente com um ser humano, por exemplo. A liberdade interior
por sua vez, significa: “vigiar para ser livre de ambições ou metas pessoais
que fazem muito mal a Igreja” p. 90. “A
igreja somos todos nós, como eu disse. E todos nós devemos despojar-nos dessa
mundanidade: o espirito contrário das bem-aventuranças, o espirito contrário ao
espírito de Jesus.
No
Nono Capítulo intitulado A Cultura do Bem, veem-se os seguintes sub tópicos:
Liberdade para escolher o bem; Fome de dignidade; Compromisso com a paz; Por
uma nova Solidariedade; Aqui o papa faz uma indagação pertinente para jovens e
educadores: “Caro Jovens, por que vão à escola?” p. 93. O papa responde que “a
escola é um dos ambientes educativos no qual crescemos para aprender a viver,
para nos tronarmos homens e mulheres adultos e maduros, capazes de caminhar, de
percorrer a vereda da vida. Como a escola ajuda a crescer? Ajuda não apenas no
desenvolvimento da inteligência, mas para uma formação integral de todos os
componentes da personalidade” p. 94. É na escola onde aprendemos a sermos magnânimos.
“Ter um coração grande, ter grandeza de espírito, quer dizer ter grandes
ideais, o desejo de realizar maravilhas para responder aquilo que Deus nos
pede, e precisamente por isso realizar bem as atividades de cada dia, todos os
trabalhos cotidianos, os compromissos, os encontros com as pessoas, cumprir as
pequenas tarefas de cada dia com um coração grande, aberto a Deus e ao próximo”
p. 94. A escola amplia a dimensão humana e não apenas a intelectual. “A
realidade pode mudar, o homem pode mudar. Procurem (Jovens) ser vocês os
primeiros a praticar o bem, ao não se acostumar ao mal, mas vencê-lo com o bem”
p. 97. O papa faz um apelo aos jovens, lembrando dos Jovens no Brasil (penso
que também a jornada mundial da Juventude realizada em 2013). O papa também,
afirma que a crise vivenciada não é apenas econômica como a mídia mostra, mas
tem raízes ética e antropológica. “Seguir
os ídolos do poder, do lucro, do dinheiro, acima do valor da pessoa humana, se
tornou uma norma fundamental de funcionamento e critério decisivo de
organização.
O
décimo e último capítulo é dedicado a Maria Mãe do Filho de Deus e é intitulado
Maria, mãe da Evangelização, tendo os seguintes sub tópicos: O seu exemplo; A
sua fé; A sua Intercessão. O papa apresenta três palavras que resumem a atitude
de Maria: Escuta, a decisão e a ação. A fé de Maria se fundamenta em: Desatar o
nó do pecado; a fé de Maria dá carne humana a Jesus; e a fé de Maria como
Caminho. O papa remete a Santo Irineu que nos diz: “O nó da desobediência de
Eva foi desatado pela obediência de Maria, aquilo que a virgem Eva atara com a
sua incredulidade, desatou-o a virgem Maria com sua fé” p. 104. “Maria é aquela que sabe transformar um curral
de animais na casa de Jesus, com uns pobres paninhos e uma montanha de ternura.
Ela é serva humilde do Pai, que transborda de alegria e louvor. É amiga sempre
solícita para que não falte o vinho em nossa vida... Como mãe de todos, é sinal
de esperança para os povos que sofrem as dores do parto até que germine a
justiça...” p. 107. “É o Ressuscitado que nos diz, com uma força que nos enche
de imensa confiança e firmíssima esperança: “Eu renovo todas as coisas”. Com
Maria avancemos confiantes com essa promessa” p.109.
O
livro apresenta uma linguagem simples e direcionada a todos aqueles que se
interessam pela visão de uma Igreja missionária. O papa faz menção a documentos
da Igreja, ao Evangelho e mostra que um Jesus próximo das realidades sociais,
não esquecendo da essência, aliás mostrando que a essência está justamente em
sair de si para o encontro com o outro. Faz também duras críticas a um sistema
que valoriza os bens, onde o ter é substituído pelo ser, e remete a reflexões
chaves para repensarmos, como a educação que garante a magnanimidade do indivíduo.
Ressalta sempre a vivacidade do Evangelho que se faz presente no cotidiano das
pessoas, onde é necessário combater o mal existente, apoiando-se nas mão
palavras, ensinamentos de Jesus. O dialogo no texto em uma leitura, parece uma
dialogo presencial com o papa, pois em sua escrita ele repete as palavras, ou
frases dando ênfase naquilo que é proposto. Usa termos como Vip (jovens), Hein,
Jovens! (P. 97), dando proximidade entre escritor e leitor.
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