Prof. Esp. Ricardo de Moura Borges.
O presente relato de experiência
propõe entender a aplicabilidade da Olimpíada de Filosofia do Ensino Médio
desenvolvida pela Uninter em Curitiba e aplicada em diversas escolas
brasileiras com o intuito de socialização do conhecimento filosófico
contemplando as realidades presentes em cada local, tendo em vista o
desenvolvimento crítico e reflexivo que a filosofia propõe estabelecer nos
alunos do ensino médio. A escola que obteve essa experiência da Olimpíada foi a
Escola Pedro Evangelista Caminha – PEC, localizada na cidade de Geminiano – PI,
distante a 18 km do polo da Uninter em Picos- PI, sendo aplicado nos primeiros
anos do ensino médio, a saber: 1 B tarde e 1 C noite.
Dessa forma, entendemos que as
Olimpíadas tem por intencionalidade proporcionar uma forma diversificada no
educando, procurando não apenas a competição de indivíduos mas a busca
constante pelo conhecimento filosófico, ampliando e dando acesso a
sensibilidade do aluno frente ao texto filosófico provocando a sua criatividade
de reinventar, ou de propor novas formas de se entender filosofia. Assim, por exemplo, o contato com as obras
filosóficas não pretende “... torna-los mais “refinados” e tampouco mais
‘artísticos’, mas os preparará para receber noções sutis sobre à criação, às
respostas inventivas” (BARROS, 2012, p.12).
Sendo que uma das ferramentas da
contemporaneidade para demonstrar essa criatividade são as redes sociais,
dentre elas destacamos a ferramenta youtube, que proporciona a possibilidade de
socialização do conhecimento por meio do compartilhamento de vídeos, que podem
ser produzidos mediante os diversos aparelhos tecnológicos digitais possíveis,
a destacar: câmeras de vídeo, celulares, smartfones, câmeras fotográficas
dentre outros. Essas ferramentas digitais proporcionam assim a atualização
sendo que “a atualização é criação, invenção de uma forma a partir de uma
configuração dinâmica de forças e finalidades” (LEVY, 2014, p.16). Ou seja,
partir das realidades que muitos alunos já tem contato diariamente como
“nativos digitais”, para anexarem os conhecimentos trazidos pelos “imigrantes
digitais” que são em muitos casos, os professores.
Devemos ter em mente que a
implicação da amplitude do conhecimento filosófico em sala não se restringe a
apenas a aulas isoladas de filosofia, mas também a problematização e a
interação de outras disciplinas com a mesma. Tendo em vista, por exemplo, que
filósofos como Anaxímenes criador do primeiro mapa (geografia), Aristóteles é
considerado pai da biologia, Pitágoras pai da matemática, Descartes criador do
plano cartesiano e assim por diante. Percebemos então que “a questão de ensinar
filosofia começa a ser vista como um problema filosófico – e também político -,
e não como uma questão exclusiva ou basicamente pedagógica” (KOHAN org. 2008, p.19).
Utilizamos como ponto de partida o
conhecimento que foi sendo adquirido pelos alunos do primeiro ano do ensino médio
mediante aulas expositivas dadas pelo professor de filosofia, juntamente com o
livro didático de apoio, intitulado Convite a Filosofia da filósofa brasileira
Marilena Chauí, onde desde a apresentação do mesmo já discute os estereótipos
presentes no senso comum quando pensa-se no que seja o filósofo, como “ alguém
distraído que, sem prestar atenção no que se passa à sua volta, dedica a sua
vida a pensar coisas distantes, complicadas, e provavelmente sem nenhuma
utilidade” ( CHAUÍ, 2013, p.3), possibilitando um debate em sala de aula para
uma aprofundamento sobre esse conceito que se forma na sociedade através de
razões históricas, como o período da ditadura militar no Brasil ( 1964 – 1985),
onde o objetivo a partir do ato Institucional nº 3 foi de abolir a disciplina
de filosofia do ensino.
Em um segundo momento expondo sobre
o nascimento da filosofia tendo como ponto de partida um lugar específico (Mileto,
Grécia antiga, séc. VI), procuramos entender em sala de aula como pensava os
primeiros filósofos que se debruçavam sobre a phisys (natureza), para depois
entendermos porque foram chamados de pré-socráticos, mesmo sendo que alguns
conviveram e morreram depois de Sócrates, como é o caso de Demócrito. Sempre
fazendo essa ponte de ligação do que significa a filosofia, como: “1) saber de
todas as coisas, um saber universal (...). 2. É um saber pelo saber (...). 3. É
um saber pelas causas.” (REZENDE, 2005, p.14).
Em um terceiro momento e finalizando
o primeiro capítulo do livro didático com as resoluções de questões, foi
apresentado em sala de aula o projeto das Olimpíadas de Filosofia no Ensino
Médio, apresentando as propostas e finalidades, tendo como a socialização do
conhecimento dos alunos para demais alunos em diversos lugares por meio das
ferramentas digitais. Foi também solicitado que os alunos em casa assistissem
aos filmes: Matrix e a Sociedade dos Poetas Mortos. Tendo em vista, que esses
conhecimentos poderiam futuramente transformar-se em artigo cientifico, como
ponto de proposta dado pela Olimpíada.
Sendo a sala dividida em grupos,
onde cada grupo poderia, usando de sua magnanimidade, de modo que “a escola não
amplia apenas a dimensão intelectual, mas também a humana” (Francisco, 2010,
p.93). Onde o mesmo propõe que:
Nas escolas
participem de várias atividades que os habituam a não se fecharem em si mesmos,
nem em seus pequenos mundos, mas a se abrirem aos outros, especialmente aos
mais pobres e necessitados, a trabalhar para melhorar o mundo em que vivemos.
Sejam homens e mulheres em conjunto com os outros e a favor dos outros,
verdadeiros campeões no serviço do próximo. (FRANCISCO, 2010, p.95).
Diante
disso, e pensando que a filosofia tem como intencionalidade a problematização
da sociedade em que vivemos, os grupos trouxeram diversos temas onde poderiam
ser demonstrados em sala de aula. Contudo, para um maior aprofundamento dos
temas foram escolhidos duas possibilidades para apresentar, a saber: O mito da
Caverna, escrito por Platão no livro X de A República, onde “Platão formula seu
modelo ideal de cidade, a cidade justa, que serve de contraste para a cidade
concreta”. (Marcondes, 2007, p.39). A
compreensão de cidade no início da Idade Medieval contemplando o pensamento do
filósofo cristão Agostinho de Hipona.
Assim
os alunos produziram vídeos com esses respectivos temas apontados acima, com
duração de no máximo seis minutos como foi apontado nas normas propostas pela
Instituição. No primeiro vídeo ( disponível em https://www.youtube.com/watch?v=2kGNH2M1xGk.),
intitulado o Mito da caverna observamos os alunos após uma apresentação sobre o
mito, fazem uma encenação problematizando e trazendo o acorrentado que sai da
caverna e percorre a cidade de Geminiano – PI, descobrindo as coisas que antes
não foram vistas durante todo o seu processo formativo, trazendo a toda “ o
espanto e admiração”, propostos como início da atividade filosófica por
Aristóteles em seu livro a metafísica. Após os vídeos alguns alunos relataram a
seguinte afirmação: “Professor foi nessa prática e no contato com o texto do
Platão que começamos a entender o que é filosofia”. No segundo vídeo
(disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=p65G2UPsQUU.) percebemos uma atualização e divulgação mais didática dos alunos
onde por meio de narração e exposição de textos e gráficos, os alunos
repassaram de forma interativa e dinâmica a socialização do conteúdo
filosófico, entrando em contato com livros do filósofo, a destacar As
Confissões.
Concluímos que tal proposta
oferecida pela UNINTER, trouxe uma contribuição muito rica para a Escola
Estadual Pedro Evangelista Caminha, onde proporcionou uma amplitude do ensino
de filosofia, mostrando interação, participação, problematização do conteúdo,
amplitude do conhecimento filosófico que abarca todas as disciplinas garantindo
uma socialização do conhecimento para todos aqueles que estiveram interessados
na área de filosofia, fazendo com que o aluno passasse de mero espectador de
aulas, para protagonista de seu processo formativo como estudante do ensino
médio.
REFERÊNCIAS
BARROS, Fernando R. de
Moraes. Estética filosófica para o
ensino médio. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2012.
CHAUÍ, Marilena. Iniciação à filosofia: ensino médio,
volume único. 2ª ed. São Paulo, Ática,2013.
FRANCISCO, Papa. A
Igreja da Misericórdia: Minha visão para a Igreja. 1ª ed. São Paulo:
Paralela, 2014.
GALLO, Silvio (Coord.). Ética e Cidadania: Caminhos da
filosofia. 10ªed. Campinas – SP: Papirus, 1997.
LEVY, Pierre. O que é o Virtual. São Paulo: Editora
34, 2011.
__________. Cibercultura. São Paulo: Editora 34,
2010.
KOHAN, O. Walter. Filosofia: Caminhos para seu ensino.
Rio de Janeiro: Lamparina, 2008.
MARCONDES, Danilo. (Org.) Textos Básicos de Filosofia: dos pré –
socráticos a Wittgenstein. 5ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2007.
Olimpíadas de Filosofia: O Mito da Caverna. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=2kGNH2M1xGk. Acessado
em: 02 de março de 2017.
Olimpíadas de Filosofia: Santo Agostinho. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=p65G2UPsQUU.
Acessado em: 02 de março de 2017.
REZENDE, Antônio. (Org.) Curso de Filosofia: para professores e
alunos dos cursos de segundo grau e de graduação. 13ªed. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar, 2005.
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