quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

O que fazer quando nos deparamos com um texto difícil?

       
Prof. Ricardo de Moura Borges. 



        Os textos são formas de expressar o mundo em que vivemos. Muitos escritos são apaixonantes, pois cativam o leitor na primeira lida, desde os títulos que chamam a atenção. Em tempos hodiernos presenciamos uma grande disseminação de livros entre todos os meios da população.      Vemos revistas de jornais com uma grande soma de livros, e ainda podemos baixar em nossos dispositivos eletrônicos muitos livros digitais, ou mesmo fazer compras pela internet. Mas podemos afirmar que comprar livros significa que estamos lendo mais? E que os livros disseminados em sua grande maioria produzem um conhecimento consistente?
      Percebemos que estamos envoltos em um mundo de frases feitas, de frases disseminadas, que quando chegamos perto e partimos para uma discussão mais sólida, muito se pulveriza no ar. Entendemos que o meio midiático produz e seduz as massas para a compra de livros de leituras fáceis que ajudam o leitor a entender o pensamento o mais rápido possível, apresentando fórmulas milagrosas para os problemas existências.
      E quando chegamos na acadêmia, quer seja nos cursos de graduação ou pós graduação, nos deparamos com textos diferentes daqueles apresentados ao nosso cotidiano. Autores que nunca ouvimos falar e agora se fazem presentes na realidade universitária. O que fazer? Abandonar os prolegômenos kantianos? Jogar fora os livros de  Eric Hobsbaw ? Nos enclausurarmos nas leituras fáceis apresentadas pelo jogo de mercado? 
    Pensamos que a melhor saída é buscar o conhecimento, e para atingi-lo, devemos buscar constantemente os caminhos metodológicos para tal. Orgulhar-se de passar uma manhã e tarde de um dia qualquer em apenas poucas páginas de autores consagrados, e perceber que nosso cérebro aos poucos está processando determinado conhecimento e produzindo questionamentos sobre determinado texto. Mas, em uma sociedade imediatista, onde o tempo encurtou-se devido as inúmeras atividades corriqueiras, isso é possível?
     Tudo é questão de prioridades, pois fazemos o nosso próprio tempo. Ao sentar-se numa cadeira para estudar determinado conteúdo, percebemos que passamos alguns minutos inquietos, procurando uma borracha, indo ao banheiro, ou tomando um copo de água. E quando nos damos conta, já tem passado uns vinte minutos, ou mais, até que nos adaptamos a abrir aquele livro que de início nos apresenta como enfadonho, cheio de palavras desconhecidas. Com a ajuda do dicionário, vamos procurando o significado dessas palavras, e percebemos que é necessário um dicionário especifico para o assunto estudado. 
      Depois vem o momento de loucura. Que é quando começamos a conversar com nós mesmos, como se o autor estivesse ali presente, iniciamos um diálogo com nossos pensamentos. Parece que nosso cérebro está inchado de conhecimento. E começamos a pensar: o conhecimento não tem massa, nem peso. Por que isso acontece? E ao final do dia percebemos que foi proveitoso o diálogo com aquele texto complexo, e que precisamos reler mais e mais, para extrairmos conhecimentos que até então não havíamos percebido.
        Daí, percebemos que somos como o filósofo Sócrates, que ao reconhecer a própria ignorância foi reconhecido como sábio. De tal forma reconhecemos o quanto não sabemos, e o quanto precisamos buscar constantemente, mergulhar no oceano de conhecimento trazido pelos livros densos e provocantes. A leitura proporciona encantamento e abre o horizontes para novas perspectivas. Uma boa leitura, feita de forma profunda e acurada provoca estranhamento e possibilidades para novas produções em relação ao cotidiano. Dessa forma, Heráclito (filósofo grego), estava certo ao afirmar que tudo fluí, pois não somos mais o mesmos de ontem, a cada livro lido, a cada experiência de mundo vividas mudamos o nosso olhar e transformamos as nossas perspectivas. 
     Concluímos caro leitor, fazendo um convite para que possamos em 2019 disponibilizar e problematizar o conhecimento que nos é apresentado. Boa leitura e até as próximas edições. 

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