quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

A IGREJA DA MISERICÓRDIA - LIVROS QUE LI EM 2017

RESENHA



A IGREJA DA MISERICÓRDIA





FRANCISCO, Papa. A Igreja da Misericórdia: Minha visão para a Igreja. 1ª ed. São Paulo: Paralela, 2014.

Ricardo de Moura Borges.
Graduado em Licenciatura Plena em História pela Universidade Federal do Piauí. Graduando em Licenciatura em Filosofia pelo Instituto Católico de Estudos Superiores do Piauí, ICESPI. Teresina – PI. Pós Graduado em História afro brasileira e Indígena pela UNINTER. Graduando em Sociologia pela UNINTER.


Sobre o autor: Jorge Mário Bergoglio, nascido em Buenos Aires em 17 de dezembro de 1936 sendo o primeiro dos cinco irmãos: Oscar, Marta, Alberto e Maria Elena. Seu pai Mario foi contador das ferroviárias e sua mãe, Regina Sivori, dona de casa. Em 1957 após se formar em especialista em Química, escolhe o caminho do sacerdócio e entra no seminário diocesano Villa Devoto. Em 11 de março de 1958 entra na Companhia de Jesus, como noviço. Foi ordenado sacerdote em 1969, nomeado bispo auxiliar em 1992, arcebispo em 1998, cardeal em 2001 e no dia 13 de março de 2013 torna-se o primeiro papa latino americano adotando o nome de Francisco.
A presente obra possui 121 páginas estando dividida em: Prefácio, dez capítulos; uma biografia rápida intitulada: Sobre o Papa; e Notas de referências sobre citações bíblicas expostas no texto.
O prefácio de Giuliano Virgini, apresentando que o pontificado do Papa Francisco se mostra delineado com a exortação apostólica Evangeli Gaudium de 24 de novembro de 2013, mostrando que a Igreja em tempos contemporâneos, assume uma cara missionária “através de um anúncio e um testemunho cristão cada vez mais puro e fiel ao evangelho”.
No Capitulo 1 intitulado A Novidade de Cristo temos cinco sub tópicos a saber: O abraço da misericórdia de Deus; A luz da fé; A mensagem Cristã; A revolução da Liberdade; Estar com Cristo. Aqui temos relatos dos evangelhos e constatação da Misericórdia de Deus através da fé, onde o próprio Tomé não acreditando na Ressurreição de Cristo, experimenta através da empiria essa constatação. A misericórdia de Deus é “um amor que não falha, que segura a nossa mão, nos sustenta, levanta e guia” p. 11. A luz da fé provém do Deus vivo e essa nasce do encontro com Deus. O papa faz um convite a não fechar em nós mesmos, não perder a confiança, não nos darmos jamais por vencidos, pois “não há situação que Deus não possa mudar, se nos abrirmos a Ele” p. 16.  O Senhor que é bom e misericordioso e sentimos o seu Amor, pois Ele nos concede a graça. O papa utiliza o método dos antigos Jesuítas para explicar sobre Jesus, colocando a regra dos três pontos. Sendo que recomeçar com Cristo significa: cultivara a familiaridade; Para um discípulo estar com o Mestre é necessário: Ouvi-Lo, aprender Dele; Imitá –Lo ao sair de Si mesmo para ir ao encontro do outro; Não ter medo de ir com Ele para as Periferias; No fim do capitulo o Papa faz uma exortação aos cristãos para não se fecharem em seus grupos, em paróquias mas que saiam de si para o encontro do Outro, mostrando uma Igreja em missão. Assim diz: “Quantas vezes vimos acidentes nas estradas! Mas eu digo: prefiro mil vezes uma Igreja acidentada a uma Igreja doente!
No segundo capitulo intitulado Uma igreja Pobre para os Pobres temos os seguintes sub tópicos: Ouvir o clamor dos Pobres; Casa de Comunhão; Casa que acolhe a todos; Casa da harmonia; e Enviada para levar o Evangelho a todo o Mundo; Os cristãos são chamados a assumirem os mesmos sentimentos que estão em Cristo Jesus, por isso essa opção pelos pobres é mais teológica do que cultural, filosófica ou social. Como ensina Bento XVI “esta opção está implícita na fé cristológica naquele Deus que se fez pobre por nós, para enriquecer-nos com sua pobreza”. A igreja é uma casa de comunhão onde “professamos que a Igreja é única e que essa Igreja é em si mesmo unidade” p. 27.  O papa afirma que durante certos períodos na História disseram que a Igreja era só para os puros, sendo que os demais deveriam ser afastados, contudo, o papa ressalta que “somos uma igreja de pecadores; e nós pecadores somos chamados a nos deixar transformar, renovar e santificar por Deus” p. 31. A Igreja é a casa onde é anunciada a fé em sua totalidade, está espalhada em todos os lugares e anuncia o Evangelho; e é uma casa de harmonia onde “unidade e diversidade sabem conjugar para se tornarem riqueza” p. 34. Sendo assim a Igreja é apostólica porque: Esta fundada na pregação e na oração dos apóstolos; Guarda e transmite com ajuda do Espirito Santo que habilita a doutrina; e é envida a anunciar o evangelho ao mundo inteiro.
No terceiro capitulo Intitulado Em Sintonia com O Espírito, encontra-se os seguintes sub tópicos: Ser Guiado Pelo Espírito Santo; e Novidade, Harmonia e Missão. O papa orienta que vivemos em uma época de ceticismo em relação a Verdade, contudo, a ação do Espírito Santo realiza ao guiar a Igreja e a cada um de nós para a Verdade, que está em Cristo Jesus. “Temos necessidade de nos deixamos inundar pela luz do Espírito Santo, para que Ele nos introduza na Verdade de Deus” p. 41. A novidade causa sempre um pouco de medo, contudo é necessário se lançar ao novo; O Espirito Santo, à primeira vista, parece trazer desordem quando traz a diversidade de carismas, contudo, sob ação do mesmo Espírito tudo é uma grande riqueza. A alma é uma espécie de barco a vela e o Espírito Santo sopra na Vela, conduzindo o ser humano;
No quarto capitulo intitulado O Anúncio e Testemunho temos os seguintes sub tópicos: Não ter medo; Levar a Palavra de Deus; Chamados para anunciar o Evangelho; Comunicar esperança e alegria; e Entregar Tudo. “Só a presença do Senhor ressuscitado entre eles e a presença do Espirito Santo” p. 48 explicam o anuncio da Boa nova em toda a Jerusalém pelos apóstolos, sendo estes hostilizados e até com pouca instrução em relação aos escribas e doutores da lei. São apresentados três aspectos da nossa vocação: chamados por Deus; chamados para anunciar o evangelho; e chamados a promover a cultura do encontro. O papa remete a três posturas que o cristão deve assumir diante sua vocação: Conservar a esperança; Deixar-se surpreender por Deus; e Viver na alegria.
No quinto capitulo intitulado Cristãos o Tempo Todo, encontramos os seguintes sub tópicos: Sairmos de nós mesmos; Caminhar; Tomar a Cruz; e Evangelizar. Aqui o papa nos remete ao significado verdadeiro da Semana Santa. “Viver a Semana Santa seguindo Jesus quer dizer aprender a sairmos de nós mesmos – como eu disse antes – para ir ao encontro dos outros, para ir as periferias da existência, sermos os primeiros a ir ao encontro de nossos irmãos...” p. 60 “Significa entrar na lógica de Deus, na lógica da Cruz. Significa entrar na lógica do Evangelho” p. 61.
No sexto capitulo intitulado Pastores com o cheiro de Ovelhas, tem-se os seguintes sub tópicos: O que significa ser Pastor; Sacerdotes para Servir; e Levar a unção ao Povo. O pastor deve apascentar o rebanho e o significado de apascentar é “acolher com magnanimidade; caminhar com o rebanho, permanecer no rebanho” p. 69. Conhecer cada pessoa do rebanho mostrando o interesse em Cristo de acolhimento, de valor de humanidade, caminhar com o rebanho fazendo-se presente e visível ao povo de Deus sempre sem abandona-los diante das circunstancias apresentadas. Carinho pelos sacerdotes, presença na diocese sendo que o estilo de serviço ao rebanho seja o “da humildade, diria até da austeridade e da essencialidade” p. 71.
No sétimo capitulo intitulado A Escolha dos Últimos tem-se os seguintes sub títulos: A Periferia da Existência: Acolher e Servir; Os refugiados; A amplitude da Solidariedade. “A Igreja deve sair de si mesma... Para as periferias existenciais, sejam eles quais forem, mais sair” p. 79. O papa enfatiza a preferência da igreja em sair em missão pelos pobres. A acolhida está relacionada a casa, ao dom. O papa faz menção a Casa (Igreja) que protege os indefesos que são perseguidos. “A Igreja é mãe e sua atenção materna se manifesta com ternura e proximidade especiais em relação aos que são obrigados a fugir do próprio país e vivem entre erradicação e integração” p. 82. A solidariedade é um palavrão que está sendo proibida de ser mencionada em tempos hodiernos, e que solidariedade está imbrincada necessariamente de três outras palavras: servir, acompanhar e defender.
No Oitavo Capitulo intitulado Demolir os Ídolos tem-se os seguintes sub tópicos: A Lógica do Poder e da Violência: Culto ao deus do Dinheiro; A lepra do carreirismo; Despojar o espirito do mundo; Todos querem o mundo da harmonia e paz, querendo o bem de todos guiados pelo amor, contudo “ quando o homem pensa só em si mesmo, nos seus próprios interesses e se coloca no centro, quando se deixa fascinar pelos ídolos do domínio e do poder, quando se coloca no lugar de Deus, então deteriora todas as relações, arruína tudo; e abre a porta a violência, a indiferença, ao conflito” p. 87. “O que manda hoje não é o homem, mas o dinheiro, é o dinheiro que manda” p. 88. O papa dá exemplos de que o que se é valorizado na mídia não é o que acontece com o ser humano, mas existe uma inversão de valores onde os objetos, como as bolsas de valores tem mais destaque que um acidente com um ser humano, por exemplo. A liberdade interior por sua vez, significa: “vigiar para ser livre de ambições ou metas pessoais que fazem muito mal a Igreja” p. 90.  “A igreja somos todos nós, como eu disse. E todos nós devemos despojar-nos dessa mundanidade: o espirito contrário das bem-aventuranças, o espirito contrário ao espírito de Jesus.
No Nono Capítulo intitulado A Cultura do Bem, veem-se os seguintes sub tópicos: Liberdade para escolher o bem; Fome de dignidade; Compromisso com a paz; Por uma nova Solidariedade; Aqui o papa faz uma indagação pertinente para jovens e educadores: “Caro Jovens, por que vão à escola?” p. 93. O papa responde que “a escola é um dos ambientes educativos no qual crescemos para aprender a viver, para nos tronarmos homens e mulheres adultos e maduros, capazes de caminhar, de percorrer a vereda da vida. Como a escola ajuda a crescer? Ajuda não apenas no desenvolvimento da inteligência, mas para uma formação integral de todos os componentes da personalidade” p. 94. É na escola onde aprendemos a sermos magnânimos. “Ter um coração grande, ter grandeza de espírito, quer dizer ter grandes ideais, o desejo de realizar maravilhas para responder aquilo que Deus nos pede, e precisamente por isso realizar bem as atividades de cada dia, todos os trabalhos cotidianos, os compromissos, os encontros com as pessoas, cumprir as pequenas tarefas de cada dia com um coração grande, aberto a Deus e ao próximo” p. 94. A escola amplia a dimensão humana e não apenas a intelectual. “A realidade pode mudar, o homem pode mudar. Procurem (Jovens) ser vocês os primeiros a praticar o bem, ao não se acostumar ao mal, mas vencê-lo com o bem” p. 97. O papa faz um apelo aos jovens, lembrando dos Jovens no Brasil (penso que também a jornada mundial da Juventude realizada em 2013). O papa também, afirma que a crise vivenciada não é apenas econômica como a mídia mostra, mas tem raízes ética e antropológica.  “Seguir os ídolos do poder, do lucro, do dinheiro, acima do valor da pessoa humana, se tornou uma norma fundamental de funcionamento e critério decisivo de organização.
O décimo e último capítulo é dedicado a Maria Mãe do Filho de Deus e é intitulado Maria, mãe da Evangelização, tendo os seguintes sub tópicos: O seu exemplo; A sua fé; A sua Intercessão. O papa apresenta três palavras que resumem a atitude de Maria: Escuta, a decisão e a ação. A fé de Maria se fundamenta em: Desatar o nó do pecado; a fé de Maria dá carne humana a Jesus; e a fé de Maria como Caminho. O papa remete a Santo Irineu que nos diz: “O nó da desobediência de Eva foi desatado pela obediência de Maria, aquilo que a virgem Eva atara com a sua incredulidade, desatou-o a virgem Maria com sua fé” p. 104.  “Maria é aquela que sabe transformar um curral de animais na casa de Jesus, com uns pobres paninhos e uma montanha de ternura. Ela é serva humilde do Pai, que transborda de alegria e louvor. É amiga sempre solícita para que não falte o vinho em nossa vida... Como mãe de todos, é sinal de esperança para os povos que sofrem as dores do parto até que germine a justiça...” p. 107. “É o Ressuscitado que nos diz, com uma força que nos enche de imensa confiança e firmíssima esperança: “Eu renovo todas as coisas”. Com Maria avancemos confiantes com essa promessa” p.109.

O livro apresenta uma linguagem simples e direcionada a todos aqueles que se interessam pela visão de uma Igreja missionária. O papa faz menção a documentos da Igreja, ao Evangelho e mostra que um Jesus próximo das realidades sociais, não esquecendo da essência, aliás mostrando que a essência está justamente em sair de si para o encontro com o outro. Faz também duras críticas a um sistema que valoriza os bens, onde o ter é substituído pelo ser, e remete a reflexões chaves para repensarmos, como a educação que garante a magnanimidade do indivíduo. Ressalta sempre a vivacidade do Evangelho que se faz presente no cotidiano das pessoas, onde é necessário combater o mal existente, apoiando-se nas mão palavras, ensinamentos de Jesus. O dialogo no texto em uma leitura, parece uma dialogo presencial com o papa, pois em sua escrita ele repete as palavras, ou frases dando ênfase naquilo que é proposto. Usa termos como Vip (jovens), Hein, Jovens! (P. 97), dando proximidade entre escritor e leitor.