sexta-feira, 15 de outubro de 2021

Afinal, o que faz um professor?

 


( Por Ricardo de Moura Borges - Prof. de História)

Para respondermos a nossa indagação e complementarmos com a reflexão trazida na charge acima, penso que primeiro devemos buscar um conceito sobre o que é ser professor. O que é ser professor? Antes de tudo, partimos do pressuposto, que ser professor é estar imerso na realidade social, ou seja, é ser humano, que busca desenvolver sua humanidade de forma plena e instiga seus educandos à soluções, ao conhecimento, ao desenvolvimento da autonomia ( não pontuo o ser crítico, pois em nossa sociedade atual este termo virou um clichê). Hodiernamente ser professor é construir pontes, meios para que o acesso ao conhecimento seja viabilizado.
Constantemente aprendemos e ensinamos, assim, todos em um momento da vida são alunos e professores. O pai e a mãe que educa seus filhos, os filhos que ensinam os amigos e seus pais ( neste contexto das Tecnologias Digitais, os filhos são tidos como os nativos digitais). Por estarmos imersos em uma cultura e linguagem desde o nascimento, aprendemos e ensinamos constantemente. 
Mas no aspecto da educação formal, ou seja, das instituições, temos os professores que possuem domínio de conteúdo em determinada área do conhecimento ( convidados sempre a um diálogo holístico), portadores de diplomas, pesquisadores, inquietos com a realidade social em que estão, buscando novos meios para superar os desafios propostos pela sociedade. Aqui frisamos que portar diploma é uma consequência de um caminhar em que o estudante fez durante um curso ( a própria palavra curso remete a caminho percorrido), assim, o diploma é consequência e não fim em si mesmo.  
Muitos associam o termo professor a sofressor como fosse alguém que estivesse carregando o mundo nas costas e ao mesmo tempo sendo constantemente responsabilizado por todas as mazelas sociais ( diga-se de passagem que nos últimos tempos houve uma responsabilização ainda maior aos professores das ditas ciências humanas...). Muitos destes discursos são internalizados até por profissionais da educação,  por exemplo, dizem: " Vejam o IDEB da nossa escola subiu para tanto.... graças a Deus". Desta forma, a responsabilidade pelo avanço escolar é graças a divindade, caso o índice tivesse reduzido, a responsabilidade seria dos professores, pois o mesmo afirmou: " mas, já que o nível subiu, o interessante é que subamos a pontuação", ou seja, agora que os professores, mais uma vez, devem colocar a mão na massa no processo de ensino aprendizagem ao trabalhar em dobro, para que o índice do IDEB não venha cair. Quando é para trabalhar mais, ou quando existe pontos negativos a responsabilidade é do professor, mas quando o índice é positivo a responsabilidade é da divindade. Este é apenas um de inúmeros exemplos que podemos citar no dia a dia escolar.
Outro ponto crucial a destacar é culpabilizar o professor por não possuir "planejamento didático" ( as aspas sugerem um planejamento único, ditatorial) e não valorizá-lo por sua capacidade sensitiva, reflexiva, critica, criativa e a um planejamento didático realizado pelo mesmo, fechando-se os olhos para o planejamento real, reflexivo, critico que a educação hodierna exige. Revestir-se de afirmações: " pertenço a pedagogia progressista...", mas desenvolver de forma evidente uma pedagogia do vitimíssimo, que acaba reforçando um discurso de opressão, no mínimo é falta de bom senso. Sempre com discurso de que em tempos atrás o sistema educacional o reprimiu, o reprovou como aluno, agora acaba tolhendo o caminho do saber propositivo, não abrindo-se a novas possibilidades de acesso ao conhecimento. As frustações fazem com que o mesmo não as supere, mas revista-se de falácias que acabam alimentando ainda mais um sistema educacional doente, pobre, sem vida. 
Procuram-se os culpados, mas não busca-se as soluções, pois ficar mexendo na casca da ferida incurável é mais cômodo do que aventurar-se em novos caminhos sadios e reflexivos.  
Colocar a culpa nos professores por seus pontos de vista, afirmando que os mesmos não possuem planejamento, mas não percebe-se que colocar uma única forma de planejar não é o caminho, ainda mais em uma sociedade diversa, plural, heterogênea em que exige-se a dialética, onde o professor não é detentor de conhecimento, mas um aprendiz constante. Como salienta uma professora: " O Planejamento pedagógico é o ponto de partida desse ciclo, mas não o único, contudo sem um propósito definido do aprendizado que se almeja construir com o estudante, sem escolher previamente os recursos didáticos e sem executar as ações/ objetivos, todo o ciclo final da (re) avaliação e (re) construção ou (re) formulação desse processo, pode-se supervalorizar uma etapa em detrimento da outra, repito que prejudica ou embarga nosso poder criativo e em consequência do estudante". Aqui, pontuo que as formas de planejar didaticamente, em nossos tempos, não podem se fechar a um único ponto, pois, desta feita estaríamos reduzidos a um único sistema educacional, fechado, tolhido e opressor. 
Um discurso marcado pelo ego inflamado não leva a uma solução propositiva que acolha pensamentos diversos e ricos, pois a riqueza da educação está na diversidade onde são apresentadas múltiplas habilidades em relação a todas as áreas do conhecimento. Falácias marcadas como " sou contra a um posicionamento romântico da educação" , mas que afirma que: " li todos os livros da biblioteca quando jovem", apresentam uma contradição gritante, primeiro ao apresentar uma visão romanceada de seu processo educativo e por fim, demonstrando que o que importa é o umbigo inflamado descaracterizando as mentes brilhantes de todo um corpo docente e discente escolar. 
 Mas se o caminho é um caos, por que escolhemos este trilhar? Será se somos incapazes de assumir outros concursos públicos, e por isso nos sujeitamos a essa carga pesada? Ou existe uma vocação intrínseca naquele que escolhe este percurso?
Penso que cada professor pode dar uma resposta existencial para o caminho que escolheu, ao mesmo tempo refletir sobre o que é educar, educação, e como podemos refletir sobre a educação hodierna sem reforçar discursos de vitimíssimo, de opressão, de medo, mas abrir os caminhos para novas possibilidades. O novo assusta, inquieta, faz com que muitos e fechem em seus casulos, se protegem e se vitimaram. A BNCC deverá ser implementada em todas as escolas a partir de 2022, mas em algumas já existe sua execução. O aluno passa a ser pesquisador, e quantos projetos desenvolvidos onde o aluno passa a ser estudante ( pesquisador), mas insistimos a  não valorizar os feitos positivos, mas supervalorizar os percalços e mazelas, pois é uma forma de evidenciar que as frustações e feridas não foram superadas, em um desejo de centralizar um ego reducionista. 
A sociedade é heterogênea, assim, uma sala de aula carrega a mesma realidade. Existirão aqueles em que determinado método de ensino será o mais adequado possível, enquanto que haverá aqueles que carecerão de outros métodos de ensino, no qual fica evidenciado inúmeras possibilidades já registrados por professores de nossa escola e de tantas outras, em que tanto o aluno x como o y conseguiram resultados surpreendentes.  Como salienta Paulo Freire, que somos seres em construção, desta feita fica evidente que todos os professores estão aprendendo, se (re) construindo, e não sendo imitadores de regras prontas e acabadas, mas propondo e aventurando-se a novos caminhos. Penso que culpar o professor com discursos vitimistas, não é o melhor caminho, mas valorizar que o se foi feito propondo melhorias ( aqui é se colocar como ser humano, e não acima dos demais, como se fosse o detentor da única verdade) por meio do diálogo saudável, da investigação, do rompimento com as frustrações, do diagnóstico é um caminho que fará um ambiente escolar mais propositivo em que permearia a unidade na diversidade. Fazendo jus a charge acima, pontuo que o professor pode fazer toda a diferença na sociedade, na vida dos alunos, da escola e também na sua própria vida, pois este está imerso em um caminho ( caminho não é fim em si mesmo) que se apresenta construtivo, reflexivo, acalorado, diverso, quando nos abrimos a uma educação propositiva.