terça-feira, 19 de setembro de 2017

A Contemporaneidade e a Educação : Uma constante reinvenção



Celso Antunes em palestra no SALIVAG  em 17 de setembro de 2017 ( arquivo pessoal de Ricardo de Moura Borges).


O ser professor em tempos de tecnologias digitais e aceleramento constante do conhecimento nos leva a profunda reflexões, mesmo sendo em tempos informações rápidas, fluentes e constantes. São muitos os desafios encontrados em sala de aula, desde a sua formação de padronização tradicional ( mesmo que " nem tudo que é tradicional deva ser abolido"), que deve ser repensado. O ponto chave da questão não é mais aprender o conteúdo para uma determinada prova, mas sim para a vida, sendo que esse aprender deve ser problematizado, inquietado, estimulado pelo agente da ação educadora. Assim, o professor não é o único agente formador, aliás nem formador é mas sim um estimulador, um condutor que através de desafios, propostas, interatividade passa a conduzir o aluno até o conhecimento. 
Compartilhamos uma crônica encontrada no livro História e Didática p.11-13 para aprofundarmos nossa reflexão:

- Boa noite professor.  O senhor nos enviou seu currículo e como vamos necessitar de um professor de História para o ano letivo que começa, gostaria de trocar ideias. Responda-me, por favor. Por que gosta de ensinar História, caro mestre?

- Boa noite, senhor coordenador. ( lembrei-me de quando comecei a lecionar em 2015). Gosto da História pelos heróis que mudaram o mundo, encantam-me seus feitos e sua glória. Amo descrever batalhas, situando-as em seu tempo e nos lugares onde ocorreram. gosto muito das datas, sempre tive enorme facilidade para memorizá-las...

- Diga-me professor. Para o senhor o ensino de História é o relato de fatos e lembrança de datas? O senhor não cosntuam ver nos acontecimentos de agora uma dimensão temporal? Para o senhor, ensinar História não são episódios da construção de uma reconsttrução de sociedades que nos faz refletir sobre as situações locais, regionais, nacionais e mundiais? Suas aulas não conduzem os alunos a identificar semelhanças e diferenças e diferenças entre as culturas no espaço e no tempo, nas mudanças e permanecias nos modos de se viver, de pensar e de fazer e nas heraças que as geraçoes deixam as outras?

- Não senhor, coordenador.  Sou professor rigoroso e me oponho a essas modernidades que escondem os heróis e , valorizando os intercâmbios de ideias, sugerem formas diferentes de análises e interpretações. Para mim, História é " preto no branco", vencedores e derrotados, heróis e bandidos!

- E suas aulas, professor? Como ensina História?

- Impondo silêncio, é claro. Mostrando que o professor sabe o que fala e por isso ao outra tarefa não cabe senão ouvir e anotar. Sou contra o debate, oponho-me ao diálogo e insisto em mostrar o lugar que cabe ao aluno. Separo com energia e clareza o agora que não pertence a minha aula e passado no qual sou especialista.

- O senhor, professor, conhece outras situações de aprendizagem além da exposição de fatos pelo professor? Assume o papel interdisciplinar de sua disciplina? Instiga a curiosidade de seus alunos, mostrando o ontem no agora e o agora em um possível amanhã? Avalia mais o progresso que os resultados de suas provas?

- Nada disso. Sou contra essas "perfumarias modernosas" e mostro que bem sabem é quem conhece os fatos, as datas e sua sucessão. Não animo reflexões, imponho verdades. Sou " pão, pão, queijo, queijo" e jamais misturo a história do Brasil com a história mundial. Para mim, aprender  é guardar coda coisa no seu lugar. Posso considerar-me contratado, prezado coordenador?

- Apenas uma questão, querido mestre! Qual sua idade? 

- Acabei a faculdade. Faço 23 anos na próxima semana. Por que pergunta, senhor coordenador?

- Apenas curiosidade, professor. Acho-o " Velho" demais para minha escola. Neste espaço gostamos de jovens professores, ainda que muitos tenham bem mais que o triplo de sua idade. Obrigado pela procura, o senhor está dispensado.

Claro que em um olhar mais atento, ou para quem passou por uma faculdade de história perceberá que esse personagem ou não assistiu nenhuma aula de história ou não deu atenção aos conteúdos ministrados e projetos de extensão na mesma instituição. O ensino, a pesquisa e a extensão acabam por desconstruir esse pensamento narrativo de grandes datas, fatos, acontecimentos descontextualizados como narra a crônica. Contudo, percebemos que existe esse pensamento atrelado ao professor como o único detentor de conhecimentos e o aluno como aquele que precisa desse conhecimento único.
A exemplo, se um professor em todas as aulas divide em grupos e propõe atividades coletivas, ou usa filmes em sala de aula pode ocorrer que alguém declare que o mesmo não está dando aula e sim enrolando aula, quando na verdade apenas tardiamente percebem que aquelas metodologias e estratégias aprimoram a visão do aluno e são formas de aproximação do conhecimento. Praticamente foi assim que percebemos a visita do geógrafo Celso Antunes no Salivag em Picos Piauí no dia 17 de setembro de 2017, ou seja, ele foi o inverso do professor apresentado na crônica.
Um senhor de idade que não utilizou nenhum recurso tecnológico (TDI's) e prendeu a atenção da platéia apenas utilizando a fala e a provocação em dinâmicas. Fez perceber por meio de um jogo socrático do " Só sei que nada sei", o quão é importante que o sujeito seja estimulado para se chegar ao conhecimento, sendo que o mesmo é estragado quando lhes dão de mão beijada as respostas prontas e acabadas, pois as mesmas não são carregadas do elemento mais importante e essencial: o sentido. O sentido só pode ser dado pelo indivíduo que busca e esse buscar constante deve ser papel do professor em instigar o aluno.

Como professor iniciante percebi o quanto devemos a cada dia nos refazermos na contemporaneidade, pois somos e estamos em constante reinvenção, com quebras de paradigmas, novas forma de aprendizagem surgindo e isso nos causa ou nos leva a um constante retorno: o refazer as práticas pedagógicas, as metodologias que usamos em sala de aula. Mesmo detendo o conteúdo ( o que acaba sendo uma inverdade, pois não existe nenhum professor de determinada disciplina que possa obter TODO o conteúdo da mesma), percebemos que o aluno deve ser provocado. Celso Antunes contou uma história interessante sobre sua vida acadêmica quando precisava fazer estágio em uma escola ( quando cursava geografia), e lembrou que o momento mais fascinante foi quando a professora usou da HUMILDADE para receber críticas de seus métodos pelo aluno estagiante e quando a mesma fingiu não saber do conteúdo, da resposta e INSTIGOU o aluno a buscar o conhecimento, mostrando assim que devemos buscar a autonomia como sujeitos pensantes.


Coordenador Pedagógico da Escola Pedro Evangelista Caminha com o Palestrante Celso Antunes. ( Arquivou pessoal de Ricardo de Moura Borges).

Professor de filosofia ao lado de Celso Antunes - Repensando as metodologias em sala de aula ( arquivo pessoal - foto tirada em 19/09/2107 no SALIVAG - Salão do Livro do Vale do Guaribas).






Bibliografia: 

SELBACH, Simone. História e Didática. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010.