sábado, 8 de fevereiro de 2020

O NEGATIVISTA: Afinal, quem é? – Algumas reflexões sociológicas.


(Prof. de sociologia Ricardo de Moura Borges)

“A pseudo crítica por princípio, a desordem por base e a cizânia por fim”
(O Negativista)


            O negativista é caracterizado por aquele que estabelece pseudo-críticas aos positivistas, capitalistas, comunistas, socialistas e toda a ordem vigente e não vigente.  Camuflam-se de um discurso comunista, socialista, budista, xintoísta, capitalista (quando necessário) xamanista dentre outros (constroem um sincretismo de ideias – com rasas leituras), mas a prática do dia a dia são totalmente capitalistas e positivistas.  Estão sempre amparados por pseudo discursos, pela reprodução de uma “construção inovadora no ensino”. E ai nos perguntamos: que inovação seria essa? Pensamos que é mais excludente do que inclusiva. Eis o problema: não passam de pseudo discursos, pois a prática em si não demonstra consistência efetiva.
            Assemelham-se aos fariseus em que Cristo uma vez repreendeu ao afirmar : “são como aqueles que estão na porta do céu mas nem entram, e não deixam os demais entrarem, impondo regras severas para que o reino de Deus fique cada vez mais distante”. (Mateus 23:13).
            Mas será mesmo que o Negativista conhece o positivista? Em breve análise, percebemos que o Negativista geralmente cita a bandeira do Brasil como se fosse Augusto Comte, daí percebemos que possui uma visão superficial sobre o positivismo. Nunca leram uma obra de Augusto Comte, e portanto, sabem tampouco que a máxima encontrada no livro Curso de Filosofia Positiva de Comte é: “O amor por princípio, a ordem por base e o progresso por fim”. Portanto, ao ler a frase da bandeira do Brasil, não sabem quem realmente se inspirou na frase de Comte para construir a passagem escrita da bandeira, troca-se o objeto pelo não autor. Destarte, confundem dois pensadores brasileiros Raimundo Teixeira Nunes e Miguel Lemos com o pensador francês.
O Negativista em sua prática está sempre como o detentor do conhecimento, onde “no meu tempo era que o ensino da universidade funcionava, no meu tempo era assim....”, não ou pouco valoriza o tempo presente, a não ser quando formula (ou copia fórmulas prontas) ao “defender” as teorias inovadoras sobre o ensino (uma defesa discursiva). Adora citar metodologias ativas, BNCC (Base Nacional Comum Curricular), Novo Ensino Médio, contudo sempre caem por terra em discursos desprovidos de atividade prática. Na verdade lhe falta práxis (teoria mais prática). A práxis está baseada no conceito de Marx, onde propõe uma teoria que seja capaz de transformar efetivamente a sociedade.
Do negativista entendemos que lhe é descabido a palavra efetivamente, tendo em vista que é mais fácil divagar em pseudo criticar os métodos apresentados sem propor efetivamente nada eficiente. Geralmente, causam em suas pseudo críticas a cizânia e o desconforto, mas quase nunca uma solução eficaz. Passa a ser alguém que reproduz sem refletir.
 É mais interessante para o mesmo propor a cizânia e com isso leva a desordem, o desconforto. Quando são confrontados com outras formas de ver o mundo se camuflam em frase do tipo: “pensar é perigoso” ( colocando-se no patamar de único ser pensante, como se os demais não refletissem), ou “nunca fui aluno estrela”, dessa forma se escondem em um vitimismo. Essas são estratégias que o Negativista utiliza para comover os interlocutores. 
Daí percebemos que o Negativista, por não ter conhecimento de causa do positivismo acaba sendo por si um positivista inconsciente. Pois não abandona os princípios positivistas de tentar criar um método para si de ascendência profissional, acumulando títulos, como graduação, três ou quatro especializações lato sensu, mestrado etc., mas combate veementemente aqueles que tentam adquirir o conhecimento acadêmico, sempre pseudo criticando a ascensão acadêmica dos demais. Aqui vale ressaltar que o conhecimento acadêmico não está dissociado do diploma. O diploma nada mais é do que um certificado que corresponde ao conhecimento construído e adquirido durante o processo acadêmico. Este será um tema que nos debruçaremos em outros textos reflexivos.
Voltando ao Negativista, este prende-se numa "bolha da verdade", a tal ponto de afirmar: “No novo Ensino médio vai na contramão da filosofia positivista. Ela busca a interdisciplinaridade do conhecimento.” Se a filosofia positivista busca a interdisciplinaridade (como afirma o negativista), então esta via está de acordo com o Novo Ensino Médio. E é interessante para repensarmos o ensino e não o contrário, sendo excludentes, como se o tradicional, ou o positivismo fosse a bruxa que deve ser queimada em praça pública. Se ampara pela falácia: “nunca fui aluno estrela”, portanto como detentor do conhecimento nos dias atuais, combate de todas as formas aqueles que conseguem atingir êxito. 
Mas o Negativista ao invés de perceber que o Novo Ensino Médio procura descentralizar o positivismo, abrindo para novas possibilidades do conhecimento, como construção a partir de uma sociedade plural em que vivemos, no qual o professor não é mais o detentor único de conhecimento, mas o mediador onde favorecerá meios para que o estudante se aproxime do conhecimento, procura de todas as formas o provocar o desconforto e a cizânia por meio de pseudo críticas.
O Negativista insiste em engessar o ensino ao seu bel prazer, afirmando que o positivismo deve ser excluído, banido, queimado em praça pública. E ai nos perguntamos: É o novo Ensino médio excludente? Pelo que sabemos a interdisciplinaridade é a conversa com todas as formas de conhecimento e não é o novo estabelecimento do Index (livros proibidos pela Igreja Católica na Idade Moderna), onde o positivismo deve ser banido da face da Terra. O negativista propõe dessa maneira, ser o inquisidor que dita: o que pode e o que não pode. Afirma:  "Os itinerários formativos são isto e não aquilo", ou seja, não propõe estudo, debate, escuta, mas impõe as regras num Ctrl C e Ctrl V, colocando-se como único detentor do saber. Não se abre, ou pouco se abre para uma terceira via de possibilidade. Seu mundo é binário, construído numa visão maniqueísta de luta eterna entre o Bem versus o Mal, o Capitalismo versus o Comunismo, o quente versus o frio, dia versus noite, etc.
Portanto, nossa intenção neste breve texto não é em se fechar em bolhas de “pseudo – verdades”, como o negativista faz, mas propor uma reflexão sobre a práxis pedagógica atual, que necessita de ações concretas, tais como: um Projeto Político Pedagógico escolar comunitário, que realmente envolva os agentes escolares, discussão real no ambiente escolar sobre a BNCC ( Base Nacional Comum Curricular) inserção de verdadeiras pedagogias ativas no ambiente escolar de acordo com as realidades das escolas locais, o sair de si para o encontro verdadeiro do outro, a formação continuada efetiva e eficaz durante o ano letivo, dentre outros aspectos.
Não pretendemos levar o caro leitor a ser um positivista, pois percebemos que esta reflexão histórica, filosófica de pensamento deve sim ser analisada, avaliada, colocando seus prós e contras. Pois entendemos que na sociedade da Informação e Comunicação da educação 4.0 as metodologias de ensino aprendizagem são diversas, portanto cabe o diálogo e a reflexão, ou seja, um pensar e repensar sobre as ações educacionais, a sociedade e o sujeito do século XXI.  A educação está voltada para uma práxis social que atenda às necessidades de sua época vigente.
Contudo percebemos a sua influência na construção da sociedade e não podemos ser hipócritas no sentido de não percebermos que a disciplina, o método, a persistência são características que se fazem presentes no nosso dia a dia e isso é valorizado pelo positivismo. Acaso, um bom jogador de futebol, acredita apenas no seu "dom" e passa a semana inteira tomando cerveja e comendo pizza para jogar uma partida no fim de semana?  Um professor passou seu curso de graduação apenas fora da universidade sem ler um único livro, para conseguiu o conhecimento e consequentemente o diploma? Algum pedreiro que ao ser contratado, construirá uma casa sem nenhum método e irá apenas no dia que ele quiser para a construção ?  Existirá algum estudante que construirá um artigo cientifico fora dos padrões da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) para um trabalho final de curso ou uma apresentação em congresso ou evento? Veremos alguma dona de casa não arrumar a mesma para o aconchego de seu lar? Um estudante graduado estudará apenas um minuto antes para a prova do concurso? Existirá uma escola ou instituição em que estudantes ou colaboradores não carecerão de ir em nenhum momento de sua vida? Ao comprar um veículo (bicicleta, carro, moto etc.), não precisaremos de uma revisão (manutenção)? Um professor do século XXI não precisará mais inserir notas no sistema, nem aulas e pode chegar no horário e no dia que lhe der na telha? Não precisará mais de um plano anual, semestral, mensal, diário para a construção de aulas?
            Esses eventos acima citados, tirados de nosso cotidiano nos faz pensar que todos precisam de um método, disciplina, uma ordem de ser. Eis o princípio do positivismo! Lembremo-nos que o positivismo nasceu no século XIX, como um sistema revolucionário, pois a burguesia que amparada pelos ideias iluministas: Igualdade, Liberdade e Fraternidade, não cumpriu o que de fato prometeu. Os pobres continuaram sendo pobres, a não ser o burguês que agora detentor do capital se apropriou do poder político e religioso. Como salienta Martins (2013, p. 34) “na concepção de um de seus fundadores, Comte, a sociologia deveria orientar-se no sentido de conhecer e estabelecer aquilo que ele denominava leis imutáveis da vida social.
 O positivismo procura estabelecer uma ordem da sociedade pela própria sociedade, tendo em vista que a burguesia derrubou o antigo sistema feudal que era amparado pela teocracia. Como pontua Castro, (2001, p. 15), que os autores do século XIX queriam pensavam em uníssono ao debaterem sobre a “possibilidade de pôr em pratica os princípios anteriormente proclamados pela Revolução Francesa”.
 O Negativista tira a sociedade e tira a teocracia, instituindo um pseudo – pensamento avulso sobre a realidade, em seus discursos promovendo a ambiguidade por meio da lógica de um “ amor relativista”, mas em sua prática estabelece um método positivista, pois sabe das leis, adora a ABNT, faz concursos dia e noite, faz viagens, matriculam seus filhos ou em escola particulares ou em outras escolas (mas nunca em ambientes educativos em que desenvolvem seu precioso pensamento negativista), constrói mansões, compra carro com altas tecnologias, toma Coca-Cola, come sanduíche do Mac Donald's, Subwai ,  diz que vê o estudo como um prazer ( assimilando métodos, ordem, e progresso em sua vida), ou seja, assume todas as características de um discípulo positivista.
Na verdade, entendemos que o Negativista é um pequeno burguês, pois ao criticar o sistema vigente, está amparado pelos mecanismos da burguesia e para ganhar visibilidade, ascensão precisa pseudo criticar o sistema para se firmar como um sujeito pós moderno, ou seja, individualista e egoísta. Com a globalização e a consolidação do capitalismo, percebemos que o sujeito ou as classes tão citadas por Marx ( proletários versus burguesia), ficaram fragmentadas, o sujeito perde-se em seu mundo e as classes, perdem suas forças, no momento em que são cada vez mais enfraquecidas, dilaceradas. A exemplo, na educação quando falamos de professores como uma classe, devemos nos perguntar: Professores universitários? Professores celetistas ( temporários)? Professores efetivos? Professores da escola pública ou particular de ensino? Daí percebemos como o Negativista (pequeno burguês) se faz presente na sociedade contemporânea, pois é a melhor figura que representa a sociedade atual e contribui para o sistema vigente.  


Referências

BÍBLIA, N. T. Mateus 23, 13. In: BÍBLIA. Sagrada Bíblia Católica: Antigo e Novo Testamentos. São Paulo: Sociedade Bíblica de Aparecida, 2008.

CASTRO, Ana Maria (Org.). Introdução ao Pensamento sociológico. São Paulo, 2001.

COMTE, A. Curso de filosofia positiva. São Paulo: Abril Cultural, 2000a. (Col. Os Pensadores).

MARTINS, Carlos Benedito, 1948 -. O que é sociologia. São Paulo, Brasiliense, 2013.


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