sexta-feira, 18 de setembro de 2015

A constante mudança em nossas vidas - Será Heráclito de Éfeso o compositor da música "Como Uma Onda No Mar"? - Filosofia em Perspectiva

Por Ricardo de Moura Borges.


    A letra da música que encanta nossos ouvidos hoje, tem uma ligação impressionante com a filosofia da Grécia Antiga, de maneira direta com o filósofo Pré - Socrático Heráclito de Éfeso. Este, incomodado com as realidades das coisas, dizia que tudo muda, ou seja, vivemos em constante mudança, não havendo assim, algo permanente na realidade.
      Esse pensamento incomodou os dois pilares da filosofia antiga: Platão, que teve que procurar um meio para resolver a busca da verdade das coisas. Tendo em vista que tudo muda, criou o mundo das Ideias e desenvolveu a dialética como método de se obter a verdade; já seu discípulo Aristóteles, incomodado com as ideias de Heráclito de Éfeso e com a solução de Platão, buscou a Analítica, como instrumento para se chegar a verdade.
    Mas que filósofos loucos! Sempre buscando chegar a verdade por meio da razão, questionando não apenas os mitos e a religião, mas acima de tudo, questionando até os próprios filósofos e a si mesmos.
      Heráclito de Éfeso viveu entre os séculos VI e V a.C. Por não querer participar da vida social em sua época rejeitando o convite de elaborar leis para sua cidade, ficou conhecido como Heráclito o Obscuro.
      Em seus fragmentos mais famosos podemos destacar: "Não se pode descer duas vezes ao mesmo rio e não se pode tocar duas vezes numa substância mortal no mesmo estado, pois por causa da impetuosidade e da velocidade da mudança, ela se dispersa e se reúne, vem e vai (...). Nós descemos ou não descemos pelo mesmo rio, nós mesmos somos e não somos".
     Nessa afirmação, percebemos que, ao banharmos no mesmo rio, tudo muda, a água muda, até as margens do rio mudam (lembro das aulas do Ensino Médio de Geografia onde se falava em assoreamento do rio - estado pelo qual os fatores da natureza, como o vento, a chuva e etc. Levam a terra das margens do rio para sua profundidade e assim,  este passa a ficar mais raso com o tempo), o tempo muda, envelhecemos a cada instante e portanto, nada pode ser igual ao que foi a um segundo atrás. (Até mesmo quando escrevo este texto e quando você o lê estamos em constante mudança de tempo).
     Assim, a mudança é algo que nos deparamos dia a dia. Não quero dizer que, antes de Heráclito ninguém havia pensando nisso, pois os filósofos de Mileto já haviam percebido um dinamismo universal, das realidades que nascem, crescem e morrem. Contudo foi o nosso filósofo Heráclito que levou ao aspecto temático de problematização. Dessa forma, percebemos a filosofia de Heráclito, ressoando na Música: Como Uma Onda, do cantor Lulu Santos.
    Hoje, ao tomar banho de mar, por exemplo, percebemos quão atual está a problemática de Heráclito em nossas vidas, sabendo que a mudança existe, pois não existe "onda" igual a outra, tal qual não existe dias da semana iguais. Contudo, existe algo que nos faz entender a diferença de uma sexta-feira para outra sexta-feira ou de um mês para outro mês ou de percebermos que em nossas fazes da vida: criança, adolescente, adulto e idoso. Percebemos ainda quem somos, esse fator é a consciência que muda e se transforma com a ação do tempo. 
    Dessa forma percebemos que Heráclito pode não ter composto a música, mas,  a filosofia defendida por ele, está presente na canção. (Observem que Lulu Santos, ao cantar a música, não é mais o mesmo do ano de 1985, no Rock'in Rio. Pois " tudo que se viu não é igual ao que a gente viu a um segundo " - Trecho da música).



Ricardo de Moura Borges - Professor de Filosofia.



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