terça-feira, 13 de outubro de 2015

A Filosofia em The Fault in Our Stars

          


           Nunca se falou tanto em filosofia como no século XXI. Talvez seja até exagero, mas parece até que as pessoas respiram filosofia, pois ela está na televisão, nos jornais, no campo e na cidade, em livros, em filmes, enfim, a filosofia está em tudo. É impressionante como percebemos o desinteresse dos jovens por leituras acadêmicas ou de contos mais antigos, contudo é inegável a presença de uma nova literatura que surge com força e permeia a juventude, cabe a destacar o livro que inspirou a criação do filme: The Fault in Our Stars, ou A Culpa é das Estrelas de John Green, autor norte americano.
            Podemos perceber uma filosofia existencialista em todo o desenrolar e finalização da trama em questão. O câncer é tido hoje como a doença do século, pois está presente de forma assustadora em diversos lugares de todo o mundo. Perceber que essa doença pode abreviar a vida de uma pessoa é angustiante, mais ainda, saber que são de pessoas jovens, que possuem ainda a energia vital para amadurecer e envelhecer torna-se ainda mais sofrível, tanto para aqueles que vivenciam tal mal, como para aqueles que acompanham tal acontecimento inesperado.
            Assim, os personagens ganham força ao demonstrarem sua fragilidade, primeiro notamos Hazel Grace uma adolescente de 16 anos que sofre desde os 13 anos de idade com um câncer de tireoide, e por querer evitar maior sofrimento com as pessoas que a cercam, decide viver em um mundo com a família, com seus livros, livros e dividindo experiências em um grupo de apoio para adolescentes com câncer, onde ela tem a oportunidade de conhecer diversas outras histórias de pessoas que passam por problemas semelhantes.
            Nessa perspectiva existencialista, percebemos o grande destaque da finitude das coisas e um grande questionar filosófico: Qual o sentido da vida? Albert Camus filósofo existencialista já ressalta que a vida não tem sentido, cabe a cada ser humano dar sentido a sua existência. Assim afirma Camus que os conteúdos filosóficos devem ser acessíveis a todos os homens e que devem ser práticos e impulsionam ações, ou seja, que põe em questão o nosso próprio existir. De tal maneira argumenta Camus sobre o suicídio:
Só existe um problema filosófico realmente sério: é o suicídio. Julgar se a vida vale ou não vale a pena ser vivida é responder à questão fundamental da filosofia. O resto, se o mundo tem três dimensões, se o espírito tem nove ou doze categorias, aparece em seguida. São jogos. É preciso, antes de tudo, responder. E se é verdade como pretende Nietzsche, que um filósofo, para ser confiável, deve pregar com o exemplo, percebe-se a importância dessa resposta, já que ela vai preceder o gesto definitivo.

Contudo, achamos duas saídas para a conclusão do filósofo na obra “The Faut In Ours Stars”, primeiro que no grupo que os adolescentes frequentam tem como o centro uma busca para as verdades eternas do cristianismo, no centro está Jesus, que tudo pode e que garante um lugar de alívio para as dores e cura para os doentes, dá um outro  sentido terreno para a vida é encontrando quando a jovem encontra Augustus Waters um jovem de quase 18 anos de idade, ex-jogador de basquete  e que devido um problema de osteosarcoma (tumor maligno nos ossos que se propaga para os demais órgãos), teve que amputar uma de suas pernas. Jovem que enfrenta uma doença grave com humor e que se encanta com a adolescente Hazel Grace.
Uma amante de livros e um amante de jogos encontram um sentido para a vida, ou seja, encontram forças não para vencer o câncer para lutarem até os últimos instantes de existência. Daqui, surge outra inquietação filosófica já pensada por Heidegger ao propor que o ser humano é um ser para a morte. Assim essa necessidade de não ficar só no mundo pois como afirma Heidegger:

[...]‘estamos suspenso’ na angustia... a angústia nos suspende porque ela põe em fuga o ente em sua totalidade. Nisto consiste o fato de nós próprios, os homens que somos, refugiarmo-nos no seio dos entes. É por isso que, em última análise não sou ‘eu’ ou não és ‘tu’ que se sente estranho mas a gente se sente assim. Somente continua presente o puro ser-ai no estremecimento deste estar suspenso onde não há em que apoiar-se. (HEIDEGGER, 1973 p.277).
           
Dessa forma essa angústia é dilacerante no homem em questão, contudo Heidegger não está falando de pessoas com câncer, mas de todo ser humano que vive sua vida mesmo com saúde em uma angústia, pois não está em sua casa, está em constante mudança e passagem. Como já afirmava o filósofo Pré-Socrático, Heráclito de Éfeso, que “todas as coisas são passageiras e estamos em constante mudança”, assim Heidegger afirma que existe uma constante preocupação interna no homem e essa lhe causa angústia. Mas nossos personagens na obra antecipam essa angústia, pois agora impulsionados por um câncer que lhes atormenta existe uma antecipação acelerada da finitude no mundo.
            Preocupado com isso o jovem Augustus Waters está preocupado em ser lembrado depois que morrer, e descobre no decorrer da trama que em pequenas atitudes, gestos, palavras é que para sua família e entes queridos que sua “imortalidade” prevalecerá na mente daqueles que vivem. Como bem salienta a própria jovem Hazel Grace. Assim também aconteceu com as grandes personalidades da História como Aristóteles, os faraós do Egito, os imperadores Romanos e Napoleão poderão ser lembrados para sempre, e só poderão ser esquecidos com o fim da humanidade. Interessante que essa observação é pertinente para o historiador também, porque, este agora munido dos instrumentos para “construir” a história pode também “desconstruir” a história que há muito tempo foi repassada, agora levando em consideração a veracidade dos documentos escritos, e outras fontes que eram até então desconsideradas pelos antigos historiadores. Percebemos que as fontes agora, são artefatos que desenvolvidos em uma cultura e construídos nesta, não são neutros e passam a ter uma intencionalidade pelos grupos que lhe deram origem. Dessa forma afirma Marc Bloc: “Tudo o que o homem diz ou escreve, tudo que fabrica, tudo o que toca pode e deve informar sobre ele” ( BLOCH, 2001,p.79).
            É assim que o jovem Augustus e a jovem Hazel Grace vai produzindo a sua história, modificando os meios relacionais e mostrando saídas para amenizar seu momento de dor, diante de uma grave doença, até chegar a finitude de seus dias. De certo que a história que ficará não é daquele que a construiu em questão no seu dia a dia, mas daquele terceiro agente que é incumbido de contar a história para os demais e deixar assim também a sua marca no tempo e espaço.
            Uma doença degenerativa que antecipa a morte, daqueles que lutam em busca da felicidade em uma vida onde o homem em seu dia a dia busca sentido para vivê-la. Nessa antecipação à conclusão do filósofo Heidegger de que somos seres para a morte se faz como verdadeira. Assim ele nos diz:
A questão da constituição ontológica de ‘fim’ e ‘totalidade’, obriga a tarefa de uma análise positiva dos fenômenos da existência até aqui postergados. No centro destas considerações, acha-se a caracterização ontológica do ser-para-o-fim em sentido próprio da presença e a conquista de um conceito existencial da morte. (HEIDEGGER, 1997, p. 17)

            Diante disso, percebemos que a presente obra que ganhou a admiração de tantos jovens é uma atualização presente do pensamento dos filósofos existencialistas, que envoltos em sua época, já pensavam na finitude da vida, e colocaram os sujeitos históricos em perspectiva de existência e constante busca para entender sempre mais o existir. Contudo, assim como na obra que fatos são elencados a partir de uma visão de mundo, chegando à sensibilidade de perceber como, por exemplo, que uma casa de tijolos pode ser mais que uma simples casa, onde guarda uma memória e uma vivência, principalmente, para aqueles que conviveram nela. Essa obra nos faz refletir sobre a literatura que nossos jovens estão lendo na atualidade.
           
Referências
BLOCH, Marc. Apologia da História ou oficio do historiador. Tradução André Telles. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001.
CAMUS, Albert. O mito de Sísifo. 3ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 1989.
GREEN, John. A Culpa é das Estrelas. Intrínseca Editora, 2012.
HEIDEGGER, Martin. Ser e Tempo. Trad. Márcia de Sá Cavalcante. 3ª Ed. Petrópolis RJ: Vozes, 1997.
_________________. Que é Metafísica. Tradução de Ernildo Estein. Abril cultural. São Paulo: 1973. (os pensadores)

Ricardo de Moura Borges - Professor de Filosofia e Artes.

Nenhum comentário: