sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

O Príncipe - Maquiavel - É Hora de Ler ! Livro 3. 2018

Por Ricardo de Moura Borges 





MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. São Paulo: Pé da Letra, 2010. 126p.

             A presente obra embora tendo sido escrita no ano de 1513 mas publicada em 1532 com a intenção de conseguir garantir espaços de poder antes perdidos por situações politicas. A obra está dividida em vinte e seis capítulos e foi endereçada a Lourenzo de Médici. Encontramos: Dedicatória a Lourenzo de Medici como introdução. Depois por ordem dos capítulos: Quantos tipos são os Principados e de que modos se adquirem; Dos Principados Hereditários; Os Principados Mistos; Por que o Reino de Dário, ocupado por Alexandre, não se rebelou contra sucessores após sua morte; De que Modo Governar as Cidades ou Principados que, antes de serem ocupados, vivam com suas Próprias Leis; Dos Principados Novos que Conquistam com Armas Próprias e com Virtude; Dos Principados Novos que se conquistam com as Armas e Fortuna Alheias; Dos que chegaram ao Principado por meio Traiçoeiro; Do Principado Civil; De que Modo se Devem Medir as Forças de todos os Principados; Dos Principados Eclesiásticos; De quantas Espécies são as milícias, e dos Soldados Mercenários; Dos Soldados Auxiliares, Mistos e Próprios; O que compete a um Príncipe acerca da Milicia; Daquelas coisas pelas quais os Homens, e especialmente os Príncipes, são louvados ou insultados; Da liberdade e da Parcimônia; Da Crueldade e da Piedade; se é melhor ser amado que temido, ou antes temido que amado; De que modo os príncipes devem manter a Fé na Palavra Dada; Como evitar ser Desprezado e Odiado; Se as Fortalezas e muitas outras coisas feitas pelos Príncipes são úteis ou não; O que convém a um Príncipe para ser estimado; Dos secretários que os príncipes tem junto de si; De que forma se afugenta os aduladores; Por que  os Príncipes da Itália perderam seus Estados; De quanto pode a Fortuna nas coisas Humanas e de que modo se pode resistir; Exortação para Procurar Tomar a Itália e Libertá-la das Mãos dos Bábaros; e por fim, encontramos uma Carta a Francesco Vettori. Um livro de linguagem fácil e de bom entendimento, onde encontramos capítulos breves de poucas páginas e que se ligam com os demais. 
               Esse paragrafo nos serve para situarmos nos temas sobre os quais houve a discussão do filósofo florentino. Niccolò di Bernado dei Machiavelli nasceu no dia 3 de maio de 1469 na cidade de Florença, hoje muito lido e discutido por muitos que se dedicam a construção do pensamento politico no Ocidente. Sabe-se que aos sete anos de idade, começou a estudar matemática, latim e logo depois pelo seu empenho começou a estudar grego antigo. A sua família já fazia três séculos em que participava dos cargos públicos da cidade de Florença. Aos vinte e quatro anos de idade Maquiavel tornou-se secretário da república de Florença e copista de um professor de literatura, aos vinte e nove anos foi nomeado chanceler e depois nomeado secretário dos Dez Magistrados da Paz e da Liberdade. 
             A roda da fortuna começa a mudar no ano de 1512, onde dez anos antes Maquiavel foi nomeado por César Borgia ( filho do papa Alexandre VI), representante do governo de Florença. Em 1513 foi preso e torturado por conspirar para a eliminação do cardeal Giovanni de Médici. Nesse período foi exilado, e foi aí onde escreveu uma de suas obras mais conhecidas: O Príncipe. 
      Lembremo-nos que a situação politica e social está passando por inúmeras transformações devido a expansão do comércio, descoberta de novos territórios até então não sabido pelos europeus, confronto com as entidades tradicionais religiosas, como a Igreja Católica, dentre outros fatores que serviram de base para entendermos que o nosso filósofo é fruto de seu tempo, e a partir deste começa a estudar a politica por uma nova ótica, ou por uma que até então não foi observada até o momento, dando sustentação ao pensar politico até a nossa contemporaneidade. Afinal, se fizéssemos a seguinte pergunta a você caro leitor: O poder politico do nosso presidente, governador ou prefeito provém de forças divinas ou de interesses políticos da sociedade e dos jogos de poder? Penso, que de forma unanime encontraríamos a resposta de acordo com a segunda parte da pergunta. Mas no tempo em que Maquiavel viveu não era bem assim a compreensão da politica. 
                Na Idade Média compreendida entre os fins dos séculos IV com a queda do Império Romano no Ocidente em 476 d. C, até o período da tomada dos Turcos Otomados que dominaram Constantinopla em 29 de maio 1453, a cultura e a sociedade europeia foi sendo constituída e cristalizada pelos pilares dos antigos gregos e romanos juntamente com a interpretação do cristianismo, tendo em vista que a Igreja Católica começou a ganhar espaço justamente com a aceitação e oficialização da religião cristã a partir do Imperador Constantino. Fundamentando-se em passagens bíblicas, como por exemplo, encontramos em Provérbios, 8, 15: “É por mim que reinam os reis e que os príncipes governam a justiça”, entendemos que a lógica do poder estava atrelado aos dois poderes: o Politico e o Divino.
               Maquiavel em sua obra propõe uma visão humanista da realidade politica demonstrando formas de o Príncipe, ou seja , o governante chegar ao poder e manter-se no mesmo, tendo em vista que nem o governante uma vez estando no poder quererá sair de lá, nem mesmo o povo quererá estar sob domínio de um governante se não for favorecido algo benéfico em troca. Aqui, surge uma questão interessante: O que seriamos de nós, por exemplo, se não existissem os governantes? Existiria Leis? Muitos provavelmente diriam que seria melhor pois não haveria corrupção, levando esse termo apenas para o campo da politica, outros iriam contestar dizendo que o simples fato de furarmos uma fila para nos beneficiarmos já é um caso de corrupção. 
                   Enfim, Maquiavel está preocupado em direcionar Lourenzo de Medici ao poder e fazer com que o mesmo reestitua os momentos de glória pelo qual o seu avó obteve em tempos passados.
                Por isso Maquiavel faz uma papel de historiador, mas um historiador aos seus moldes trazendo de volta reflexões dos antigos, como por exemplo, Tito Lívio que descreve os grandes governantes antigos, as suas estratégias para chegar e continuar no poder, como aconteceu com Alexandre o Grande. Então o governante deve obter métodos, como afirmou o filósofo: O primeiro Método para estimar a inteligência de um governante é olhar para os homens que têm a sua volta", dentre outras afirmativas que direcionam o estado do governante para agir com prudência e sabedoria diante do principado governado, assim como diz Maquiavel: " Ora desejando eu apresentar-me com algum testemunho, que prove a minha admiração por Vossa Magnificência, não encontrei entre meus pertences coisa de maior valia ou que tanto estime, como o conhecimento das ações dos grandes homens(...). Dessa forma em sua análise Maquiavel faz o papel de filósofo ao desnaturalizar aquilo que já era natural para muitos, ou seja, voltar aos antigos ( como um bom renascentista), para poder entender a lógica do poder politico em seu tempo. 
                 Dois termos são utilizados pelo filósofo florentino, a fortuna e a virtú, que são justamente elementos fundantes para que aquele que está no poder deverá continuar ou não no mesmo patamar. O primeiro está relacionado a sorte, acaso, destino da pessoa por na roda da fortuna aqueles que estão hoje fora do poder, poderá amanhã estarem no mesmo. O segundo elemento virtú, não são as virtudes que conhecemos hoje, como por exemplo, as virtudes teologais: fé, esperança e caridade. São virtudes que o príncipe ou o governante deve adquirir de acordo com o contexto em que se vive, sendo que se em uma situação o povo espera um governante sanguinário e destruidor, assim deve ser a postura do mesmo para que não se perca o poder. 
              No presente texto fiz uma atualização me referindo ao sistema de governo que vivemos, a democracia, contudo para Maquiavel só existem duas formas de governo: a república e o principado. Ele dedica a sua obra a Lourenzo II de Medici, lembrando que o Lourenzo I foi um excelente governante, trazendo muitos benefícios para Florença, esse segundo é o neto do primeiro. Maquiavel demonstra como se manter no poder sem ser odiado pelo povo, portanto, o príncipe é um tipo de manual politico. A  lógica do poder é tão interessante, ao observamos que a própria escrita do livro carregava uma intenção sendo que Maquiavel queria voltar ao poder, pois estava preso e exilado quando o escreveu, mas a fortuna ( sorte), não contava com o destino do filósofo que morreu em 1527 na pobreza e longe do poder. 
Caro leitor esperamos você no comentário do próximo livro.Não perca! Ler é o Caminho!

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