sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

Curso de Filosofia - É Hora de Ler 5.2018

Por Ricardo de Moura Borges


REZENDE, Antônio ( Org). Curso de Filosofia: para Professores e alunos do curso de segundo grau e de graduação. 13ª ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005.

        O presente livro busca de maneira articulada desenvolver um pensamento sobre alguns filósofos em um contexto histórico abordando suas linhas de pensamento. Está dividido em dezesseis capítulos, onde cada um é desenvolvido por um professor de filosofia de uma universidade, sendo o ultimo capítulos dedicado a filosofia no brasil escrito pelo organizador do livro. Apresentam-se os capítulos da seguinte forma: Pré-Socráticos: físicos e Sofistas de autoria de Maura Iglésias professora da PUC/RJ; Platão e as Idéias escrito por José Américo Motta Pessanha da UFRJ; O Realismo Aristotélico por Maria do Carmo Bettencourt de Faria, UFRJ; A filosofia Cristã por José Silveira da Costa, UFRJ; O Racionalismo Cartesiano por Hilton Japiassú, UFRJ; O Empirismo Inglês por Danilo Marcondes, PUC/RJ e UFF; O Criticismo Kantiano por Valério Rohden, UFRGS; O Positivismo de Comte por Maria Célia Simon, USU; Hegel e a Dialética por Fraklin Trein, UFRJ; O Materialismo Histórico por Wilmar do Valle Barbosa, UFRJ; O Irracionalismo de Kierkegaard por Leda Miranda Huhne, USU, Nietzsche: Uma Crítica Radical por Vera Portocarrero, USU; O Existencialismo de Sartre por Gerd Bornheim, UFRJ; A Filosofia Analítica por Vera Cristina de Andrade Bueno, PUC/RJ e UFF e Luiz Carlos Pereira, Unicamp e PUC/RJ; Visões da Modernidade por Eduardo Jardim de Moraes, PUC, RJ e Kátia Muricy, PUC/RJ; e por fim a Filosofia no Brasil por Antônio Rezende.
          Em linhas gerais no contexto da obra, os artigos citados apresentam uma linguagem clara e um elemento fundante para a construção do pensamento filosófico, sendo justamente o contato do leitor com as obras dos filósofos. Assim, dependendo do artigo encontramos muitas citações que enriquecem o texto dando concretude a ideia do autor sobre um determinado pensamento. Destaco dentre os artigos, sobre a filosofia cristã, que apresenta os filósofos principais entre os dois momentos da filosofia medieval: Patrística e Escolástica em uma continuidade histórica, o que em apenas uma lida sobre o texto, fica fácil a fixação dos conteúdos na mente. Outro artigo interessante é sobre as visões da modernidade que apresenta três filósofos pertinentes para a construção de um alvorecer de uma nova época: Habermas, Hannah Arendt e Michel de Foucalt. Apenas agora com essa leitura entendi aquilo que demorei para aprender na universidade sobre o conceito de poder para Foucalt e espero em próximas pesquisas associá-lo a outros filósofos antes do mesmo, como por exemplo, durante a leitura me veio a cabeça sobre a lógica do poder em Maquiavel. Habermas por ser um filósofo da segunda geração da Escola de Frankfurt, destaca-se por sua visão ou ideologia tecnocrática caracterizando sobre p. 259 " a submissão da esfera da comunicação pela esfera do trabalho passa a não ser nem mesmo percebida pela massa da população, em função dos efeitos do surgimento de uma ideologia tecnocrata".
            A cada artigo encontramos no fim conceitos chaves sobre os temas propostos, somado com questões sobre o texto e questões para debate. Encontramos também outro filósofo que geralmente não está descrito, como por exemplo, na Odisséia da Filosofia. Soren Kierkegaard, que traz a reflexão sobre o irracionalismo colocando em destaque três dimensões do ser humano: a dimensão estética: a questão do prazer na obra Diário de um sedutor; A dimensão ética: questão da liberdade - O desespero humano; e por fim, temos a dimensão religiosa: questão da fé em sua obra Temor e Tremor. Para o filósofo a palavra chave seria angústia que é p. 217: é uma angústia simpatizante, uma simpatia antipática. É um sentimento de inquietude que está presente na fonte da livre opção. Não tem um objeto definido, como o medo; seu objeto é " quase nada". Não é uma falta, não é um fardo, nem mesmo um sofrimento como o desespero. É o solo próprio da liberdade. Nesse sentido, diz que " ela é a própria possibilidade de liberdade". 
           Para não concluir destacamos a importância de se falar na filosofia no Brasil, onde o autor destaca um certo menosprezo ou pouca existência de um conceito e ideias próprias de uma filosofia brasileira. No primeiro tópico temos: A Desqualificação do pensamento Brasileiro que destaca a historiografia dos dois primeiros filósofos brasileiros: Silvio Romero em sua obra A Filosofia no Brasil, 1878; e o Padre Leonel Franca em sua obra em A Filosofia no Brasil, in Noções de História da Filosofia, 1921. 
              O problema é que as duas obras se distanciam e exite uma rejeição por parte de suas ideias. Como salienta Rezende ( 2005, p.275): " Para ambos a causa da debilidade teórica de nossos escritores de filosofia provém da fonte extranacional, donde nutrimos nossas ideias. Apresenta-se Marilena Chauí e Maria Silva Franco como enfrentadoras dessas "ideias fora do lugar" trazidos pelos primeiros filósofos ou filosofantes no Brasil. Sendo o primeiro a pensar as ideias filosóficas entre nós foi Cruz Costa ao p. 276 " verificar o seu papel de instrumento de ação, e principalmente, de ação social e politica.  Outro pensador é o Ubiratan Macedo que usa o termo História das Ideias distinguindo da História da Filosofia. Como aponta Rezende ( 2015, p. 277): " A História das Ideias, porém, estuda estas, sem considerá-las  certas ou erradas, ou se as vigências de nosso tempo as aceitam ou não. Estuda-as tendo em vista sua influência e aceitação em determinada comunidade".  Nesse sentido existe uma aproximação ao pensamento miguelista onde o pensador deve se aproximar da realidade que o mesmo enfrenta. Na filosofia de mangas de camisa temos a justificação do uso do pensamento extranacional tendo em vista que estamos conectados a realidade extra nacional, como afirma Ubiratan Macedo ( 1977), " ... constitucionaliza-se, ensaia um regime representativo, participa do mercado internacional, adota o navio a vapor, os trens de ferro, o romance e o drama romântico e depois o romance e o drama naturalista e realista. Como nos diz Rezende 2015, p. 278: "Tobias Barreto em 1877 por ocasião do Clube Popular, que fundara o Discurso em Mangas de Camisa, designando com essa expressão o estilo de fala informal, sem preocupações retóricas, com que desejava se dirigir aos seus concidadãos no interior de Pernambuco". Chama atenção no decorrer do texto é que a filosofia passou a não ser considerada como aquela que problematiza os problemas sociais, mas em muitas das vezes essa reflexão cabe a outros pensadores, como : sociólogos, economistas, jornalistas dentre outros.
            Em uma linguagem clara e objetiva percebemos que essa obra é de fundamental importância e que pode ser acrescida nas aulas de filosofia no Ensino Médio e Superior, pois a cada leitura entendemos uma gama de possibilidades de se pensar a filosofia trazendo um enriquecimento e aprimoramento de ideias. 
           Caro leitor, esperamos por você na próxima resenha! Não Perca! Ler é o Caminho !

                 
           

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