segunda-feira, 17 de julho de 2017

Didática, o que é ?

Por Prof. Esp. Ricardo de Moura Borges.


( Arquivo pessoal de Ricardo de Moura Borges)

         O presente livro da autora Pura Lúcia Oliver Martins, nos convida a fazer uma reflexão sobre o papel da didática no contexto brasileiro, tendo como porto de partida dois acontecimentos importantes, a saber:  I Encontro Nacional de Professores de Didática ( 1972); e O I Seminário A Didática em Questão ( 1982).  Encontramos a organização do livro em quatro partes que são descritas por Pura Lúcia (p.10, 2012):

  1. Breve história da didática no Brasil, situando momentos históricos que tiveram uma importância significativa na construção da área, sobretudo em seus princípios fundamentais;
  2. Caracterização das formas assumidas pelo processo didático em diferentes contextos históricos, explicitando seus fundamentos e instâncias operacionais, bem como considerando os três elementos básicos desse processo -  o aluno, o professor e o conhecimento numa concepção determinada pelo ato de conhecer;
  3. Apresentação dos elementos didáticos: objetivos, conteúdos, método e avaliação, tal como apresentados na teoria e na prática;
  4. Indicação de princípios orientadores para a área da didática, na busca de práticas de interação entre professores e alunos pautada na sistematização coletiva do conhecimento. Ao final, exposição de uma tendência atual do processo didático.
           No primeiro momento temos a problemática suscitada no Brasil frente a ação didática onde foi-se questionada a sua função para a formação de professores, ou seja, para que serve? Para que intuito? Tendo em vista que no I Encontro Nacional de Professores de Didática, promovido no ano de 1972, na Universidade de Brasília, " buscava-se um professor tecnicamente competente, comprometido com o programa político-econômico do país" ( p. 25); enquanto que dez anos mais tarde, em 1982 no I Seminário A Didática em Questão, realizado na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, " a preocupação girava em torno da formação de um professor politicamente comprometido com a transformação social. 
             A partir dessa busca pela transformação social em período de termino da Ditadura Militar no Brasil são apresentados quatro momentos fundamentais: 

  • 1985 - 1988 - Período marcado por intensa participação social, conhecido como Dimensão do ato pedagógico;
  • 1989 - 1993 - Período marcado pela intensificação da quebra do sistema organizacional da escola, conhecido como Organização do trabalho na Escola.
  • 1994 - 2000 - Período marcado pelo aprofundamento da ênfase na problemática do aluno como sujeito concebido como um ser historicamente situado, conhecido como Produção e Sistematização coletivas de Conhecimento.
  • 2001 até os dias atuais - Período marcado pela ênfase na aprendizagem, conhecido como Aprender a aprender, diferente da concepção de aprender a aprender proposto pela Escola Nova. Atualmente o aluno deve ser preparado para um universo de pluralidades, onde deve-se formar um " trabalhador intelectualmente ativo, criativo, produtivo" (p.26).
          No segundo momento é apresentado as abordagens do processo didático, em seus fundamentos e instâncias operacionais no contexto das teorias pedagógicas. Temos: O processo de Transmissão/Assimilação; Aprender a aprender; Aprender a fazer; e por fim a Sistematização Coletiva do Conhecimento que expressam em peculiares contextos históricos indicando caminhos distintos na organização do ensino tanto pela Escola como pelo professor.
           No terceiro momento temos a importância "das formas e práticas de interação entre professores e alunos que deve ser a partir de um planejamento cuidadoso da ação docente, trazendo a distinção dos objetivos, a seleção, a organização dos conteúdos, a definição do método e a escolha de técnicas, dos instrumentos e dos critérios de avaliação".(p.65) . A autora estabelece o estudo referente aos tempos hodiernos, contudo não descaracteriza as outras possibilidades de ensino aprendizagem.
               No quarto momento temos: Princípios Orientadores da didática na perspectiva da Sistematização Coletiva do Conhecimento, que são caracterizados: a) Da Vocação Prescritiva da Didática a um modelo aberto de construção de novas práticas; b) Da transmissão á Produção do Conhecimento: Pesquisa-ensino, uma unidade; c) Das Relações Hierárquico-Individualistas para Relações Sociais Coletivas e Solidárias; d) Da Relação Conteúdo - Forma numa perspectiva linear de Causa-Efeito para uma Perspectiva de Causalidade Complexa; por fim, e) Do Aluno Sujeito Individual para o Campo Ideológico Individual do Aluno. Esses princípios " expressam a prática dos professores num contexto marcado pelos movimentos sociais de 1980 e 1990", que se fazem pela Sistematização Coletiva do Conhecimento.
          Em uma sociedade capitalista estamos inseridos em um contexto onde a escola deve atender as demandas sociais vigentes, portanto como nos afirma Pura Lúcia ( p. 80): " Essa forma marcada pela aquisição de competências tem como seu foco no aluno produtivo, sujeito de sua aprendizagem, responsável pela aquisição das competências previstas para sua formação". Onde temos uma educação marcada pela perspectiva do aprender a aprender, que se diferencia da Escola Nova. Continua a autora a dizer: " Essa é uma tendência das formas e práticas de interação entre professores e alunos do atual momento de reestruturação capitalista em que se assiste a uma mudança no foco de exploração: da força de trabalho braçal centrada na racionalização do tempo de trabalho para a exploração da força de trabalho intelectual". 


Referência Bibliográfica

MARTINS, Pura Lúcia Oliver. Didática. 2. ed. Curitiba: Ibpex, 2008.


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